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SK Tarpon
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1347 dias atrás

Bioinsumos: a resposta que está na própria natureza

Por Marcelo Lima, cofundador da SK Tarpon e 10b

Em um mundo cada vez mais polarizado, talvez o antagonismo presente na discussão entre meio ambiente e o agronegócio seja o mais crítico e idealizado, marcado por visões extremas. Nós da 10b acreditamos na viabilidade de uma cadeia global de alimentos rentável e um planeta saudável. Nosso propósito está ancorado em modelos de negócios, tecnologias e soluções inovadoras que, comprovadamente, trazem produtividade e rentabilidade para o produtor rural, de forma sustentável e regenerativa respeitando os anseios do consumidor. Um dos exemplos mais evidentes deste tipo de negócio são os bioinsumos, foco de atuação da Agrivalle, nosso investimento recente.

A prática de bioinsumos se baseia na aplicação de organismos naturais para aumentar a produtividade nos sistemas de cultivo, melhorar a fertilidade do solo, a disponibilidade de nutrientes para as plantas e para o controle de pragas e doenças no campo. Sempre usando soluções que estão na própria natureza. Desde microrganismos como fungos, bactérias e vírus, a macrorganismos como insetos e ácaros. Bioinsumos já existem há décadas, são adotados na produção de orgânicos, mas sua utilização está passando por forte crescimento nos últimos anos, uma vez que sua aplicação tem se mostrado eficaz também nas grandes culturas. Isso representa uma oportunidade para se reduzir o uso de insumos químicos que, quando adotados de forma inadequada ou excessiva, levam a desequilíbrios.

O sucesso das soluções biológicas vem da colaboração entre empresas inovadoras do setor privado – como a Agrivalle, produtores rurais, pesquisadores e órgãos governamentais como EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Fizemos pesquisas para entender a motivação dos produtores rurais na adoção de bioinsumos. O resultado mostra que, em sua grande maioria, a resposta hoje vem da maior eficácia e menor custo de produção. A solução biológica para determinadas pragas e doenças, como no caso dos nematoides – que trazem prejuízos de mais de 150 bilhões de dólares por ano no mundo – tem trazido resultados melhores do que os químicos. Pragas desenvolvem resistência contra moléculas químicas ao longo dos anos de forma que as doses têm que ser aumentadas, trazendo danos potenciais não apenas ao ecossistema, mas à saúde de quem as aplica e aos alimentos que consumimos. A dinâmica com biológicos é diferente, a natureza tem seus ciclos e precisamos respeitá-los. Tem muito ainda para aprendermos com ela, mas todos estes anos de trabalho de pesquisa científica permitiu identificarmos predadores naturais e microrganismos que potencializam a produção agropecuária.

O impacto no meio ambiente ainda não é um motivador determinante das escolhas do produtor. Na pesquisa mencionada acima aproximadamente 1% das respostas o destacam como fator de decisão. Na medida em que, com novas tecnologias de rastreabilidade, a cadeia possa reconhecer e remunerar o investimento do produtor que privilegia soluções sustentáveis e novos designs produtivos, naturalmente ele vai priorizar práticas regenerativas e o seu processo decisório estará alinhado com as demandas do consumidor de alimentos por saudabilidade e sustentabilidade. Mas antes mesmo disso, é o impacto no solo que vai fazer com que produtores adotem cada vez mais soluções biológicas. O solo é o maior patrimônio do produtor rural. Aqueles que já vêm adotando biológicos há mais tempo percebem a enorme diferença na saúde do seu solo (e os benefícios em vários sentidos).

E aí entra outro componente muito relevante. O solo tem um enorme potencial de retenção de carbono. Dada a natureza regenerativa dos biológicos, sua utilização permite restabelecer o equilíbrio dos microrganismos do solo, aumentando o teor de matéria orgânica, promovendo a captura e fixação do carbono atmosférico e contribuindo para a redução do aquecimento global. Biológicos são uma solução concreta, pois sua aplicação é viável no modelo de produção atual (preparo, plantio e manejo) e traz retorno comprovado para toda a cadeia. Esta é provavelmente uma das poucas (talvez principal) formas de impactar com amplo alcance e em um horizonte de tempo reduzido esta que é uma questão global premente.

O Brasil, dada a riqueza do nosso ecossistema e a força do agronegócio, pode ser protagonista no desenvolvimento de soluções e respostas para o que talvez seja o maior desafio da nossa geração. É um privilégio poder participar desse processo, aprendendo com a natureza e impactando uma causa fundamental com tanto potencial de geração de valor.